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liturgia |
1. Nome e conceito. (Do gr. = serviço do povo). No antigo uso profano designava qualquer serviço em favor do povo. No séc. II a.C. (nomeadamente na tradução dos *Setenta) aparece também como serviço do culto. Mais tarde, nas Igrejas Orientais passou a designar a Missa. Na Igreja latina, só aparece no séc. XVI. O seu sentido foi-se precisando com o “Movimento Litúrgico”. Depois de Pio XII (Enc. Mediator Dei, 1947), o Conc. Vat. II (SC 7), para a definir, evoca três notas essenciais: é o exercício do sacerdócio de Cristo; nela, sinais sensíveis significam e, a seu modo, realizam a santificação do homem; e assim o Corpo Místico de Cristo (a Cabeça e os membros) exerce o culto público integral. O sacerdócio de Cristo exerce-se nos dois sentidos: no de culto perfeito a Deus (sentido ascendente) e no de santificação dos homens (sentido descendente). Neste exercício, a presença e actuação de J. C. são eficazmente asseguradas por sinais sacramentais. A própria Igreja é *sacramento de Cristo, pois é através dela que, hoje, J. C. fala aos fiéis, lhes perdoa os pecados e os santifica, associando-os intimamente à sua oração e ao seu sacrifício de valor infinito (Mistério Pascal). Com razão se diz que a l. é «o cume para que tende toda a actividade da Igreja e simultaneamente a fonte de onde dimana toda a sua força» (SC 10). 2. A liturgia ao longo da história. No NT, há referências a acções litúrgicas (1Cor 11,1-33; Act I2,42-47...). Nas Apologias de S. Justino (séc. II), na Tradição Apostólica de Hipólito (séc. III) e noutros escritos dos primeiros séculos já se descrevem as várias *celebrações (missa, sacramentos…). Com a paz de Constantino (séc. IV), a Igreja organiza-se e o culto litúrgico estabiliza-se, adquirindo grande esplendor. Para isso contribuíram grandes papas e bispos (Gregório Magno, Ambrósio, Cirilo…). São deste tempo os “sacramentários”, que fixam os textos litúrgicos. É um tempo criador, durante o qual se desenvolvem, a par, as liturgias orientais e as latinas (romana, ambrosiana…). Segue-se um período, até ao séc. XII, de certa confusão pela influência das Igrejas germânicas, francas e célticas. O povo tende a afastar-se da liturgia para se dar às devoções. No séc. XIII, os monges de Cluny e as Ordens Mendicantes, na sua acção missionária, contribuem para impor a todo o Ocidente a liturgia romana. São desta época o *Pontifical, o *Missal, o *Breviário e o *Ritual. Os dois últimos séculos, anteriores ao Conc. de Trento (séc. XVI), pouco significaram para a liturgia. Este Conc. e os Papas que o executaram puseram cobro aos abusos, estabeleceram os fundamentos teológicos das acções litúrgicas e, no clima da Contra-Reforma perante o Protestantismo, uniformizaram rigidamente a liturgia, centralizando toda a legislação na Cúria Romana. Pio V publicou o Breviário (1568) e o Missal (1570), e, outros Papas, os restantes livros litúrgicos, que estiveram em uso praticamente até ao Conc. Vat. II. Salvas a ortodoxia e a disciplina, perdeu-se o influxo vital da liturgia. O Movimento Litúrgico reagiu e preparou a reforma da liturgia, a qual, depois das intervenções de S. Pio X e de Pio XII, foi assumida pelo Conc. Vat. II, orientada pela Const. *Sacrosanctum Concilium. Paulo VI, o grande executor do Concílio, empenhou-se a fundo nesta reforma, que hoje está praticamente concluída, embora nem sempre aplicada. Teve em vista principalmente a «participação consciente, activa e frutuosa» nas acções litúrgicas (SC 11). Para isso, se clarificaram os ritos, se generalizou o uso das línguas vernáculas e se admitiu uma certa margem de adaptação nas formas de celebrar. 3. Movimento Litúrgico. Assim se ficou a chamar o conjunto dos esforços tendentes a tornar a liturgia mais vivida pelo povo de Deus. Preparado pelo estudo das fontes litúrgicas por especialistas dos sécs. XVII-XVIII, foi seu grande impulsionador D. Guéranger (+1875) com os seus monges beneditinos do Mosteiro de Solesmes. Na primeira fase, o M. L. germinou nos grandes mosteiros (Maredsous, Mont-César, Maria-Lach...). Depois, com D. Lambert Beaudouin (+1960), passou às paróquias e irradiou nomeadamente através de congressos e de revistas de pastoral litúrgica (Questions Liturgiques et Paroissiales, Maison Dieu). S. Pio X oficializou o M. L. e promoveu o canto gregoriano, a participação dos fiéis na Missa e a comunhão frequente, mesmo das crianças. Pio XII foi outro grande paladino deste movimento, dele ficando célebre a sua Enc. Mediator Dei (1947). 4. Em Portugal, o M. L. deu os primeiros sinais nos Congressos Litúrgicos de Vila Real (1926), Braga (1928), Lisboa (1932) e Porto/Santo Tirso (1932). Entre os seus mentores e promotores, é de justiça referir D. António Coelho e Mons. Pereira dos Reis, respectivamente, nos dois principais centros de irradiação, o Mosteiro de Singeverga e o Seminário dos Olivais, com as revistas Opus Dei, Mensageiro de S. Bento, Ora et Labora e Novellae Olivarum. Mons. Freitas Barros promoveu, desde 1927, edições diversas da tradução portuguesa do Missal. Durante o Conc. foi constituída a Comissão Episcopal da Liturgia que, assessorada pelo respectivo Secretariado Nacional, assegurou as traduções e edições dos novos livros litúrgicos e a formação litúrgica do clero e dos fiéis, nomeadamente pela realização todos os anos, em Fátima, de Encontros Nacionais de Pastoral Litúrgica. 5. Elementos estruturais da liturgia. A liturgia concretiza-se nas *celebrações litúrgicas (*Missa e *sacramentos, *Ofício Divino, *bênçãos e outros *sacramentais). A estrutura de cada uma das celebrações foi-se definindo desde os primórdios da Igreja. Esquematicamente, nas celebrações, enquadradas pelos ritos de abertura e de conclusão, desenrolam-se os vários ritos, em geral em torno do essencial. Os ritos são ilustrados pela Palavra de Deus, que é proclamada, rezada, cantada e inspira os diversos textos litúrgicos não bíblicos. Em geral, as celebrações contêm uma primeira parte de *liturgia da palavra, que a reforma litúrgica pôs em evidência (SC 35). Os textos devem ser proferidos de acordo com a sua natureza, pois uma coisa é aclamar, outra suplicar ou meditar, ler ao povo ou cantar em conjunto (CB 116; EDREL 2653). As celebrações litúrgicas são de toda a Igreja, representada em cada uma pela *assembleia celebrante, mesmo quando, nos sacramentos e sacramentais, são especialmente beneficiados com a graça de Deus determinados fiéis. A assembleia é um corpo orgânico, como o é a Igreja. Na maioria das celebrações, há um presidente que, pela ordenação sacerdotal, faz as vezes de J. C. Cabeça do Corpo Místico e actua em seu nome. Para determinadas outras funções, podem ser requeridos outros ministros (diácono, leitores e acólitos instituídos, leigos). E há celebrações que podem ser presididas por simples leigos. Os *livros litúrgicos contêm não só os textos que pertencem aos diversos agentes litúrgicos, mas ainda as regras (rubricas) que os ritos devem respeitar. Tais ritos, que, segundo a reforma litúrgica, devem ser simples e claros (SC 34), recorrem a elementos naturais, (água, vinho, óleo, fogo, incenso…); a gestos (andar, comer, beber, lavar…); a posições corporais (de pé, sentados, de joelhos); e ainda a uma série de objectos, as alfaias litúrgicas (cálice, patena, lâmpadas, toalhas, paramentos…) e adequado local (igreja ou outro *lugar de culto, com o altar, ambão, crucifixo, imagens, bancos…). A celebração da liturgia decorre, no tempo, de acordo com o *Calendário do Ano Litúrgico. Nele se definem, ritmadas pela celebração da Páscoa semanal, as diversas solenidades, festas e memórias, em honra do Senhor, de Maria e dos Santos. |
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