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Misericórdias (Irmandades ou Santas Casas da) |
São uma das mais belas instituições de bem fazer segundo o espírito cristão da caridade fraterna. Inspiradas em experiência italiana (M. de Florença, criada em 1244), tiveram origem na iniciativa de D. Leonor, mulher do rei D. João II, aconselhada pelo trinitário Frei Miguel Contreiras, ao fundar a Irmandade da Misericórdia de Lisboa, a 15.8.1498. D. Manuel I, irmão da rainha, deu todo o apoio a esta iniciativa, aprovou os seus primeiros compromissos (estatutos) e promoveu a fundação de outras M. nas principais povoações do país e mais tarde nas áreas de expansão ultramarina. À de Lisboa seguiram-se, ainda em 1498, mais 13; no ano seguinte, as do Porto, Évora e outras; a de Coimbra em 1500; e até 1558 mais 372 na Metrópole, cerca de 140 no Brasil e mais uma dezena em África e no Oriente. O primeiro compromisso impresso (1596) esteve em vigor até à reforma de 1618 introduzida por Filipe II. Segundo ele, os irmãos obrigavam-se a praticar as diversas obras de *misericórdia de acordo com as necessidades de cada época e lugar: recolher os expostos, corrigir os transviados, tratar dos enfermos, remir os cativos, enterrar os mortos, etc. Esta actividade polivalente, o empenhamento nela dos irmãos e a inspiração cristã são as três características destas irmandades, que, desde o início, invocaram como celeste patrona N.ª Sr.ª das Misericórdias e sempre estiveram unidas à Igreja. A sua expansão, desde os descobrimentos, fez-se pelo mundo ultramarino. Hoje também há M. noutros países, sobretudo da Europa e da América Latina. As M. têm tido de enfrentar diversas vicissitudes, nomeadamente as tendências liberais, laicizantes e estatizantes dos últimos séculos. Em Portugal, foram atentados mais graves: as leis de tutela pelo Estado (1820 e 1836); as leis de desamortização (1871 e 1866), obrigando-as à venda do património imobiliário em troca de falazes títulos de dívida pública; a estatização do Hospital de Todos-os-Santos (na altura já chamado de S. José) da Misericórdia de Lisboa (1851); o Decreto-Lei 35108 (1945) separando nas M. a instituição assistencial da irmandade (o que só foi sanado por Decretos-Lei de 1979 e 1983); e, na Revolução de Abril, a nacionalização dos principais hospitais das M. (1974 e 1975), criando uma situação que só foi parcialmente sanada em 1986-1989. A reacção a estas agressões começou com os Congressos das M. (o 1.º, em 1924), sobretudo o 5.º (Viseu, Nov. 1976) de que saiu a União das Misericórdias Portuguesas, tendo como secretário nacional o Pe. Virgílio Lopes. Boa parte dessas agressões foram sendo sanadas e começou nova era para estas irmandades, que actualizaram e multiplicaram as suas valências assistenciais. Actualmente, contam-se em Portugal 380 M. cobrindo cerca de duas dezenas de valências diversas. A distinção entre associações de fiéis, privadas e públicas, introduzida pelo novo CDC (312-326) originou alguma tensão entre a União das Misericórdias e o Episcopado, pela Declaração dos Bispos Portugueses (15. 11.1989) de que as M. são associações públicas, ao contrário das expectativas da União que as queria privadas, alegando que a original dependência exclusiva do rei lhes assegurava a autonomia em relação aos poderes políticos e eclesiásticos. A prudência pastoral conseguiu manter o anterior bom entendimento. |
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