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mulher |
V. homem (ser humano). 1. O que diz a revelação. As narrativas do Génesis sobre a criação do homem e da mulher são de grande riqueza doutrinária: a) A criação. Feitos à “imagem e semelhança” de Deus, capazes de conhecer e amar, e por Ele elevados à condição de seus filhos, ambos são iguais em essência, dignidade e destino eterno. Mas, ao mesmo tempo, são dotados de admiráveis diferenças que os tornam complementares, mutuamente necessários e igualmente participantes na obra de continuidade e progresso da espécie humana. Feitos para a comunhão de amor e de vida, reflectem o mistério do Deus uno e trino. A paternidade própria do homem e a maternidade própria da mulher evocam as qualidades “masculinas” e “femininas” que analogicamente podemos descobrir em Deus. Por um lado, Deus é Pai: assim o tratava J. C.; assim no-lo ensinou a tratar (no Pai-Nosso); e, até no AT, o povo se considerava alvo da paternidade de Javé. Mas, por outro lado, Deus mostra-se, principalmente no AT, com entranhas maternais de misericórdia, mais solícito por seus filhos que as próprias mães (Is 49,15; 42,14; 46,3-4; 66,1-3; cf. Sl 131,2-3); b) A queda. O *pecado original, além de acarretar a perda do estado de graça e a entrada da morte na vida humana, quebrou a perfeita harmonia entre o homem e a mulher, do que resultaram desequilíbrios e sofrimentos, que atingiram mais profundamente as descendentes de Eva. O castigo foi logo anunciado. O homem passava a comer o pão com o suor do rosto, e a mulher passava a ter os filhos no sofrimento e a entregar-se ao homem que a dominaria. Mas, ao mesmo tempo, fez-se ouvir a promessa misericordiosa de Deus no “proto-evangelho”, da intervenção de uma “Mulher” (Gl 4,4-7) na obra da redenção. (Cf. Carta past. de João Paulo II *Mulieris dignitatam, 1988). 2. Jesus e as mulheres. Além de *Maria, a Virgem-Mãe, por quem veio ao mundo, J. C., nos anos da sua vida pública, teve encontros, sempre amigos, com mulheres de todas as categorias, desde a samaritana e a mulher adúltera, até Madalena e as irmãs de Lázaro. A caminho do Calvário, falou às mulheres de Jerusalém e, no momento crucial da sua hora, teve junto de si Maria e algumas das santas mulheres que O assistiam e aos Discípulos. Ressuscitado, foi a estas que apareceu primeiro, e mandou Madalena a anunciar aos Apóstolos a sua ressurreição. No Pentecostes, enviou o seu Espírito sobre os Apóstolos reunidos com Maria, que assim se tornou Mãe da Igreja. V. Maria. 3. A mulher na Igreja. Relatam os Actos que várias mulheres (Prisca ou Priscila mulher de Áquila, Evódia e Síntique, e muitas mais, referidas p.ex. nas cartas de Paulo) prestaram assinalável ajuda aos Apóstolos nos primórdios da evangelização. Outras edificaram a Igreja pelo testemunho da fé até ao martírio (Inês, Cecília, Perpétua e Felicidade, Maria Goretti…); e outras ainda, pela sua virtude, no mundo ou nos claustros (Mónica, Escolástica, Clara de Assis, Teresa do Menino Jesus...) ou pela ciência das coisas de Deus (Catarina de Sena, Teresa de Ávila, Edith Stein…). Ao longo dos séculos, têm sido as mães cristãs, físicas e espirituais, a assegurar a transmissão da fé às novas gerações, para o que foram dotadas de especial sensibilidade educadora. E hoje, os agentes do apostolado em terras de velha cristandade ou em terras de missão, são em maioria mulheres, leigas ou consagradas na vida religiosa. A Igreja, no seguimento de J. C., confia-lhes todas as tarefas mais condizentes com a sua condição feminina, à semelhança de Maria, e ainda as funções, mesmo litúrgicas, radicadas no “sacerdócio comum” de todos os baptizados. Mas a especial participação no tríplice serviço profético, sacerdotal e pastoral de J. C. Cabeça do Corpo Místico, mediante o sacramento da Ordem, reserva-a a homens especialmente vocacionados, no respeito da escolha livre e soberana de J. C. bem atestada no Evangelho e na tradição eclesial. (Cf. João Paulo II, Carta às Mulheres 29.6. 1985, n. 11; Carta ap. *Mulieris dignitatem). 4. A Igreja e as mulheres. Os efeitos do pecado original anunciados no Gn são o retrato profético do que tem acontecido ao longo da milenária história da humanidade. A Igreja sofre com a situação desgraçada de milhões de homens e mulheres de todo o mundo vítimas de injustiças e de infortúnios, pelo egoísmo ou pela incúria dos homens. É certo que o pecado original já foi radicalmente sanado pelo sacrifício de J. C., mas os seus efeitos perduram. Por isso, a Igreja tem procurado contribuir, com o esforço de evangelização dos povos e de cristianização das estruturas temporais, atenuar e dar sentido positivo aos sofrimentos humanos. Neste esforço dá particular atenção à situação da mulher, tantas vezes profundamente atingida na sua dignidade e nos seus direitos (poligamia, escravatura social e familiar, mutilações, esterilizações, marginalização social, política e religiosa, feminismos desrespeitadores da sua femi-nilidade, etc.). Na acima referida Carta às Mulheres, escrita no rescaldo do Ano Internacional da Mulher (1984), por ocasião da IV Conferência Mundial sobre a Mulher (Pequim, Set.1985), João Paulo II descreve a situação; lamenta as responsabilidades que nela tenham tido membros da Igreja; alegra-se com os progressos já conseguidos e em curso no processo de dignificação da mulher e da sua promoção nos contextos familiar, social laboral e político, e com a superação de falsos feminismos que vêem a mulher como concorrente do homem; e promete continuar a participação da Igreja nos esforços por que sejam respeitados e promovidos os direitos fundamentais da mulher em todo o mundo. |
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