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oração |
1. O que é. De acordo com a etimologia, orar é falar com Deus. S. Tomás define-a como elevação da mente a Deus para o louvar e lhe pedir o que é bom para a salvação. Ela pressupõe acreditar num Deus pessoal e na possibilidade de entrar em contacto com Ele. É a expressão mais espontânea da virtude da *religião. 2. Na Bíblia e na experiência cristã. Os momentos cruciais da história da salvação estão marcados pela o. de grandes figuras bíblicas (Abraão, Moisés, David, Isaías…) e do próprio povo de Deus. O Templo e mais tarde a sinagoga eram lugares de o.; e os salmos suas expressões típicas. J. C. foi modelo e mestre de o., rezando ao Pai em longas vigílias e em momentos decisivos da sua vida, desde o baptismo no Jordão à morte no Calvário (Lc 3,21-22; 11,1; Jo 11,41-42; Mt 11,25-27; 26,36-46; 27,46). Ensinou os discípulos a rezar devota e persistentemente, deu-lhe como oração modelar o Pai-Nosso (Mt 6,9-13; Lc 11,2-4), e garantiu-lhes que seriam ouvidos sempre que rezassem bem (Mt 7,7-11ss; 18,19-20). Ao longo da história da Igreja, nunca faltaram os mestres de oração. Pouco a pouco, foi-se definindo a oração litúrgica como oração oficial da Igreja, muito ins-pirada na Escritura. Paralelamente, desenvolveu-se a oração devocional (*piedade popular) tanto comunitária como individual (privada). 3. Modalidades. Quan-to à intenção, a o. pode ser: predominantemente latrêutica (de adoração, de louvor), eucarística (de acção de graças), impetratória (de pedido ou súplica) ou reparadora (de satisfação ou de expiação). Embora a o. gratuita de adoração e louvor a Deus seja a mais perfeita, a o. de súplica pelo próprio, por outras pessoas (vivas ou no Purgatório) ou por causas nobres é necessária e meritória como exercício das virtudes da fé, da esperança e da caridade. O próprio J. C. deu disso exemplo. (V. preces). Toda a o. tem como destino final Deus ou as Pessoas divinas. Mas isso não impede de rezar a Nossa Senhora, aos Anjos e aos Santos do Céu como intercessores junto de Deus e dignos de louvor pelas maravilhas que Deus neles operou. 4. Condições e dificuldades. Não basta rezar muito, é necessário rezar bem, com espírito de fé, de esperança e de caridade, com atenção e devoção, com recta intenção e de forma esclarecida. Daqui a necessidade de aprendizagem e de exercício, tanto mais que são diversas as dificuldades a vencer. A mais comum é a das distracções, que prejudicam a atenção com pensamentos e imaginações desviantes; podem ser independentes da vontade (cansaço, preocupações, vida dispersiva, e até tentações do demónio); mas também podem ser voluntárias ou consentidas, por falta da devida preparação remota e próxima. Outra dificuldade é a aridez, i.e., uma certa impotência e falta de gosto na produção dos actos discursivos e afectivos próprios da o., dificuldade que pode ser devida a fadiga, falta de formação ou tentações persistentes, mas também provação de Deus destinada a purificar dos apegos sensíveis às consolações frequentes nas primeiras fases da vida espiritual, para fazer entrar em fases mais adiantadas. Em todos estes casos, o discernimento das dificuldades e dos remédios apela para a ajuda dum prudente director espiritual. 5. Graus de oração. Sta. Teresa de Ávila, mestra na matéria, aponta 9 graus de oração, correspondentes aos 9 estádios da progressão na santidade que ela descreve no seu Castelo Interior: os três primeiros, na fase ascética, em que predomina o esforço pessoal e o exercício das virtudes; os quatro últi-mos, na fase mística, com o predomínio do exercício dos dons do Espírito Santo e a atitude passiva de acolhimento de especiais graças divinas; sendo o 4.º um grau de transição. Ei-los: 1) Oração vocal (pressupondo a atenção e a devoção), sempre necessária, válida em si mesma e normal ponto de partida para os graus superiores. 2) *Meditação, a o. mais trabalhosa, por exigir a aplicação das faculdades mentais (inteligência, vontade, memória, imaginação) num esforço de penetração das realidades sobrenaturais e na formulação de bons propósitos de conversão e progresso espiritual. 3) Oração afectiva, quando passam a predominar os afectos da vontade sobre a reflexão discursiva, na procura de maior comunhão com Deus. 4) Oração de simplicidade (ou de recolhimento infuso), quando reduzida a um olhar confiante para Deus, para J. C. ou para um mistério divino, fazendo a transição para a fase contemplativa ou mística. Trata-se aqui da contemplação sobrenatural ou infusa, em que, para além da intervenção das virtudes teologais, intervêm activamente os dons do Espírito Santo do entendimento, da sabedoria e da ciência, permitindo uma experiência viva da presença e da actuação de Deus. À medida que o avanço espiritual se dá, o labor das faculdades mentais vai dando lugar à acção de Deus mediante suas graças especiais. 5) Oração de recolhimento infuso, quando cessa o esforço discursivo sobre Deus e os seus mistérios, dando lugar a que a alma capte as luzes que vêm dele. 6) Oração de quietude, quando cessa tam-bém o esforço da vontade para alcançar a Deus, pela inefável comunicação por Ele concedida, provocando como que uma embriaguez de amor. 7) Oração de união, quando também as restantes potências da alma (memória e imaginação) são como que absorvidas em Deus, originando a sensação viva da presença dele, à maneira de impulsos e feridas de amor. 8) Oração de união extática ou desposório espiritual, com frequentes momentos de êxtase místico ou profético, nos quais a força da contemplação como que arrebata os sentidos físicos. 9) Finalmente, a oração de união transformante ou matrimónio espiritual, a que chegam raras pessoas na sua caminhada de santificação, atingindo o máximo de união a Deus possível nesta vida e originando completa paz e domínio dos sentidos. Foi só depois de ter atin-gido este grau de santidade que Santa Teresa iniciou a sua intensa tarefa de reforma do Carmelo e das fundações de conventos reformados (carmelos descalços). 6. Na liturgia. Na missa, no ofício divino, na administração dos sacramentos e sacramentais, nas bênçãos e noutras acções litúrgicas, encontramos diversas modalidades de oração, uma vez que toda a liturgia é louvor, acção de graças e súplica a Deus, pela Igreja como Corpo Místico e sacramento de J. C. Reserva-se, contudo, o nome de oração às seguintes: na missa, as orações presidenciais (colecta, sobre as oblatas, depois da comunhão, e sobretudo a oração eucarística também chamada Cânone e Anáfora); e as de todo o povo (oração comum ou universal ou dos fiéis e a oração dominical ou Pai-Nosso). A oração dominical é dita oficialmente pela Igreja três vezes por dia: em Laudes, na Missa e em Vésperas. A oração universal aparece também noutras celebrações e assume forma solene na celebração da Paixão em Sexta-Feira Santa. Na Liturgia das Horas, toda ela predominantemente laudativa, uma oração presidencial termina cada uma das horas. As diversas bênçãos rituais terminam com uma oração de bênção. As ladainhas também se chamam orações litânicas. |
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