|
Reforma (protestante) |
1. Factores favoráveis. Ficou na história com o nome de Reforma o cisma que separou da Igreja Católica boa parte da população europeia. Para ela contribuíram diversos factores. Da parte da Igreja, sobretudo o mundanismo de alguns Papas, as deficiências na formação do “baixo clero”, procedimentos pastorais incorrectos (pregação das indulgências), sentimento popular da necessidade de reforma da Igreja que tardava. Da parte do contexto sociocultural e político, sobretudo a influência do humanismo alemão e holandês (Erasmo), do nominalismo e das seitas (hussistas, valdenses...), a tendência dos príncipes para se emanciparem da tutela eclesiástica e se apoderarem dos bens da Igreja, a perda do sentido de unidade europeia, a passagem de uma economia agrária para uma economia monetária (artesanato e comércio). 2. A Reforma. A R. eclodiu com os protestos dos reformadores, a começar pela publicação das teses de Lutero, monge agostinho, sobre as indulgências (Wittemberg, 1517), condenadas pelo Papa Leão X, que acabou por excomungá-lo (1521). Em 1526, na 2.ª Dieta de Espira, os “estados evangélicos” assinaram um protesto, que veio a dar aos reformados o nome de “protestantes”, de que se orgulham. A R. alargou-se a outras áreas, primeiro pela acção de outros reformadores, como Zuínglio (Zurique, 1522) e Calvino (Genebra, 1541); e depois pela política dos príncipes interessados na unidade religiosa dos seus cidadãos. Assim, a R. alargou-se a quase toda a Alemanha, Suíça e Países Baixos, países escandinavos (Dinamarca, Suécia, Noruega) e chegou a infiltrar-se na França, Espanha e Itália. A separação da Inglaterra (Anglicanismo) teve origem diferente, na reacção de Henrique VIII à recusa pelo Papa do divórcio por ele pretendido, sem haver, pelo menos no princípio, divergências doutrinais significativas. O Protestantismo e o Anglicanismo passaram depois à América e a outros continentes por via colonialista ou missionária. Dos países que ficaram fiéis a Roma, são de salientar Portugal e Espanha, envolvidos na epopeia dos descobrimentos e da evangelização dos povos de além-mar, embora com momentos difíceis de relacionamento com o Papa pela tendência absolutista dos seus reis. 3. A Contra-Reforma ou Reforma Católica. Perante os cismas protestante e anglicano, cresceu no seio da Igreja fiel a Roma o desejo de que a Igreja entrasse pela via de uma autêntica reforma. Ela, porém, tardou, até que, depois dos Papas da Renascença, encontrou o apoio de Papas verdadeiramente interessados nessa reforma. Surgiu assim a ideia de um Concílio reformador, que se reuniu em Trento, por três períodos, entre 1545 e 1563, com a participação de bispos de grande valor (S. Carlos Borromeu, Beato Bartolomeu dos Mártires…). O Concílio condenou teses erróneas, definiu doutrina e tomou diversas medidas disciplinares, entre as quais a fundação de seminários para a formação do clero. Para a sua aplicação, contou com papas de valor, como S. Pio V (reforma litúrgica, Catecismo do Concílio...) e com a Companhia de Jesus, fundada em 1540, que exerceu extraordinária acção nos campos da defesa do Papado, do ensino da Teologia e das Ciências, e da evangelização dos novos povos. Outras ordens religiosas, renovadas no seu espírito (p.ex., Carmelitas) ou de novo fundadas, deram também preciosos contributos para a autêntica reforma da Igreja. 4. Evolução da Reforma. O livre exame da Escritura, a contestação dos sacramentos, a recusa muitas vezes de uma hierarquia ou sua subordinação ao poder político, deram naturalmente origem a divisões internas entre as originais confissões protestantes, pelo que hoje são muitas as Igrejas ou Denominações cristãs não católicas. As mais tradicionais, depois de dois séculos sem relações com a Igreja Católica e mesmo entre elas, começaram a desejar um regresso à unidade da Igreja por que J. C. rezou na Última Ceia. Dois motivos pressionam neste sentido, o da credibilidade da acção missionária e a necessidade de enfrentar conjuntamente a descristianização do mundo moderno. Surgiu assim o *movimento ecuménico. Graças a ele e aos gestos de boa vontade, sobretudo a partir dos meados do séc. XX, reforçados pelas disposições do Conc. Vaticano II (admissão de observadores das diversas confissões cristãs não católicas, publicação do Decreto *Unitatis redintegratio), o clima passou a ser de aproximação, diálogo e cooperação, embora pareça ainda longe o termo da caminhada. |
É expressamente interdita a cópia, reprodução e difusão dos textos desta edição sem autorização expressa das Paulinas, quaisquer que sejam os meios para tal utilizados, com a excepção do direito de citação definido na lei. |