Apresentação

Siglas e Abreviaturas

Sugestões


reformas na Igreja (Católica)
Por fidelidade à sua natureza e missão, a Igreja está em permanente mo­vimento de reforma, para remediar as infidelidades de seus filhos e enfrentar situa­ções sempre novas. Mas, como é natural, a história regista períodos em que a reforma da Igreja se tornou mais ne­ces­sária e se verificou de maneira mais evi­dente, partindo a iniciativa quer da sua cabeça quer dos membros mais humil­des, aos quais não podia faltar a pro­me­tida assistência do Espírito Santo. São de considerar especialmente as re­formas seguintes: a) A seguir à paz de Cons­tantino (313). Terminado o clima de perseguição, a Igreja adaptou-se depressa à situação de favor do Império Romano, dele recebeu o esquema administrativo e o apoio à realização dos primeiros concílios ecuménicos; defen­deu-se da entrada em massa das populações pagãs pelo regime de catecumenado; e teve um dos períodos áureos da cultura teológica (séculos dos grandes doutores da Igreja); b) Na invasão dos povos bárbaros. Perante a debilidade do Im­pé­rio Romano do Ocidente e com a sua queda (476), em parte provocada pela invasão dos povos bárbaros, a Igre­ja viu-se privada do favor do poder polí­tico, encontrando-se só perante uma no­va ordem sociocultural, e tendo de se de­dicar à fixação e evangelização dos invasores. Para isso pôde contar com grandes Papas, como S. Gregório Mag­no, e com o providencial trabalho de civilização e evangelização dos monges de S. Bento; c) Na crise do “século de ferro” (séc. X). Sendo a Igreja a maior força social, depois da queda do Impé­rio, pensou, sobretudo a partir de Carlos Magno, voltar ao que ao tempo era considerado o ideal da uni­da­de da Europa, a ligação com o novo Império Franco. Mas, com o declínio deste Império, o Papa viu-se envolvido nas rivalidades dos senhores italianos e teve de enfren­tar a questão das investiduras na Ale­ma­nha, tendo entrado em profunda crise, que coincidiu com o Cisma do Oriente. Desta vez, a reacção reformadora partiu sobretudo de santos ligados à vida monástica e religiosa, primeiro à volta de Cluny (séc. X) e de Cister (séc. XII) e depois das ordens mendicantes (Fran­ciscanos, Dominicanos e outros, séc. XIII), que deram grandes teólogos, gran­des bispos e grandes pontífices, como Leão IX e S. Gregório VII, que levaram a Igreja ao apogeu medieval, marcado pelo predomínio do poder espiritual sobre os príncipes; d) Na crise dos sécs. XIV-XVI. O prestígio do Pa­pado, porém, declinou rapidamente, para o que contribuíram: a redes­co­berta do Direito Romano que atribuía aos príncipes direitos ilimitados, a Guerra dos Cem Anos, entre a Inglaterra e a Fran­ça, a peste negra, que dizimou a po­pulação europeia, a instabilidade da vida em Roma, que levou o Papa a resi­dir em Avinhão (1309-1377) e, no seu regresso, ao Grande Cisma do Ocidente (1378-1417), vendo-se a Cristandade di­vidida entre obediências de 2 e 3 Pa­pas. Superado o Cisma, a verdadeira reforma da Igreja tardou, pelo facto dos Papas da Renascença, de vida princi­pes­ca e muitas vezes indigna, se interes­sarem mais com obras de prestígio do que pelo bem da Igreja. Foi-se predis­pon­do, assim, o terreno para a *Re­for­ma protestante. Este acontecimento que dividiu a Igreja latina e subtraiu da obediência a Roma boa parte da Europa (a que se juntou, por outros motivos a In­gla­terra anglicana) levou os povos fiéis a olharem para Roma. Entrou-se, então, na verdadeira reforma, de que é expoen­te maior o Concílio de Trento (1545-1563). Além de condenar as teses he­ré­ticas e de aprofundar importantes pontos doutrinais, o Concílio tomou medidas para a formação do clero, para o exer­cício do seu ministério e para a disciplina da vida interna da Igreja. Para a sua execução, a Igreja pôde contar com excelentes Papas e bispos, e com o apoio da Companhia de Jesus e de outras no­vas formas de vida consagrada, que tiveram papel decisivo na defesa da ortodoxia e na evangelização dos novos mundos então descobertos; e) Na crise dos sécs. XVII-XIX. A divisão religiosa da Europa e a consolidação das nacionalidades governadas por príncipes absolutistas levou à constituição de Igrejas nacionais defendidas por sistemas inquisicionais, e mesmo às “guerras da religião” (até 1648). Entretanto, surgiram as ideias racionalistas a proporem uma religião “natural” sucedânea do Cristianismo, a que se juntaram as ideias que eclodiram na Revolução Francesa (1789), com o seu cortejo de violências sobretudo contra a Igreja, em nome da liberdade religiosa. Durante o séc. XIX, os católicos viram-se perante o dilema da aceitação ou recusa das novas ideias, que, se por um lado favo­reciam as minorias católicas nos países protestantes, por outro conduziam à laicisação e à descristiniazação dos países católicos. Os Papas desse século, especialmente Pio IX, opuseram-se às ideias liberais. Mas, de forma mais rea­lista, os do séc. XX, a começar por Leão XIII (o Papa da Rerum Novarum) e, depois, Pio XI (o Papa das Missões e da Acção Católica) assumiram atitude mais pragmática, ao mesmo tempo que se ve­rificava uma renovação da vida interna e do prestígio externo da Igreja. Estava criado o clima propício à realização dum grande passo reformador. Acon­te­ceu com o Conc. Vat. II (1962-1965), a que ficaram indelevelmente ligados os nomes dos Papas João XXIII, Paulo VI e João Paulo II. E a reforma continua, exigida cada vez mais pelas transforma­ções em curso na humanidade inteira, com reflexos profundos na vida da Igreja.


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