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religião, religiões |
1. Etimologicamente, o termo r. vem do lt., religio, que Cícero, o grande orador romano, fazia derivar do verbo relegere (= considerar cuidadosamente), referindo-se aos deveres a cumprir com exactidão para com os deuses; e Lactâncio, escritor cristão, fazia derivar do verbo religare (= ligar ou prender), como que a insinuar o que liga o homem a Deus. 2. A história das religiões diz-nos que, em todas elas, se reflecte a percepção de que a vida humana depende de algo de transcendente, cuja influência importa tornar benévola. Desconhece-se a r. do homem primitivo, admitindo alguns que tivesse sido monoteísta. Nos tempos históricos mais antigos, o homem prestava culto às forças da natureza emanadas dos astros (nomeadamente do Sol), dos animais e das árvores. Nas civilizações patriarcais, a r. é o centro de toda a vida: a família, clã ou tribo tem os seus deuses, por vezes representados por imagens (ídolos), que ditam (por mitos e tabus) as regras da vida e protegem na guerra e na economia rudimentar (pastoreio, agricultura); a multiplicação das divindades (politeísmo) poderá ter sido fruto sincretista da fusão de famílias, clãs ou tribos. Nas civilizações socialmente estruturadas (Estados), a r. torna-se legal e cultural: o chefe é de descendência divina e exerce o sumo sacerdócio ou delega noutro, não havendo distinção entre religião e política. Sobretudo no Oriente surgiram as religiões salvíficas, que ensinam como atingir a felicidade presente ou futura, por vezes confundindo a divindade com o cosmo ou as forças da natureza. 3. Em Israel. Com Abraão (c. 1800 a.C.) surge uma novidade religiosa, a de um Deus pessoal que se revela e promete aliança com um seu povo ainda em embrião. Durante os primeiros séculos, Javé aparecia como Deus superior aos deuses dos outros povos. Mas, depois do exílio, pela acção espiritualizante dos profetas, Javé aparece como Deus único, criador e senhor do Universo, atento a cada pessoa singularmente considerada. 4. Religião cristã. Preparou-se assim o caminho para a plenitude da revelação de Deus em Jesus Cristo, que nos veio trazer a religião perfeita, a que oferece e assegura uma vida nova, sobrenatural, já iniciada na terra, e plenamente vivida depois da morte, na visão de Deus face a face. Condição para isso é a adesão de fé a J. C., Filho de Deus feito Homem, vindo à terra para salvar a humanidade pecadora pelo seu sacrifício na cruz, e que, antes de regressar ao Pai, nos deixou a Igreja e o Espírito Santo para a aplicação da salvação a cada pessoa. 5. Expansão do Cristianismo. A moral do Cristianismo, sintetizada no amor de Deus e do próximo, alimenta o dinamismo evangelizador da Igreja. No primeiro milénio, foi evangelizada toda a Europa. Depois, apesar das divisões internas (Cisma do Oriente, Cisma protestante), a expansão do Catolicismo fez-se sobretudo nas áreas descobertas ou tornadas mais acessíveis pela gesta marítima, iniciada por Portugal e Espanha, com o apoio dos príncipes católicos. Apesar dos católicos serem estatisticamente os fiéis mais numerosos, o seu crescimento numérico é proporcionalmente inferior ao da população mundial, e mesmo do Islamismo. A explicação desta quebra do dinamismo missionário está em parte no clima cultural nos continentes em que a Igreja está mais estabelecida: clima laicista e naturalista, convidando à adopção duma religião universal sem dogmas, caracterizado pelo subjectivismo religioso. Para voltar ao antigo dinamismo missionário, a Igreja já não pode contar com o apoio do poder civil, no actual regime de laicidade dos Estados, aliás por ela aceite. Para reanimar o espírito missionário, ela realizou o Conc. Vat. II; o Papa João Paulo II fez-se missionário pelas rotas do mundo; e notam-se sinais de maior atenção da parte dos fiéis às exigências da evangelização, seja da “nova evangelização”, seja da evangelização ad gentes. V. liberdade religiosa. |
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