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ressurreição |
1. Observações preliminares. Prescindindo das várias acepções que a palavra r. pode ter na linguagem corrente, são dois os sentidos que tem na Escritura. O primeiro é o de milagre da reanimação de mortos, como os operados por J. C. (filha de Jairo, filho da viúva de Naim, Lázaro, Mt 5,41-42; Lc 7,14-15; Jo 11,4-44) ou por S. Pedro (Tabitá, Act 9,41-42). O segundo é o do mistério da r. gloriosa de J. C., três dias depois da sua morte de cruz, fonte da r. final de todo o homem que vem a este mundo. A Assunção da Virgem Maria foi singular participação na r. de seu Filho e antecipação da r. dos outros cristãos que morrem na graça de Deus (Cat. 966). É deste mistério da r. que a seguir se trata. Diz-se mistério porque transcende qualquer conhecimento experimental, sendo, portanto, objecto de fé, pelo que deve haver todo o cuidado em não reduzir a r. às imagens a que a nossa linguagem tem de recorrer para dela falar. Tal dimensão transcendente, contudo, responde ao sentir profundo da humanidade de que a existência não termina com a morte, mas há uma vida misteriosa que continua para além dela, o que se reflecte em várias religiões e espiritualidades para além da cristã. 2. A ressurreição na Escritura. No AT, só tardiamente se admite a r. dos mortos. Nos primeiros tempos, pensava-se que a morte mergulhava o homem nas profundidades do Cheol, onde passava a ter uma existência larvar, a que mal se podia chamar vida, pois nem sequer tinha qualquer acesso a Javé. Sobretudo depois do exílio, a ideia de que a bênção de Javé sobre o seu povo implicava a promessa duma vida perene, levou progressivamente a admitir a r. do povo (cena dos ossos reanimados, Ez 37,1-34), ou mesmo de uma r. individual (claramente expressa em 2Mac 7,9-42; 12,43; 14,46). No NT, já encontramos generalizada a crença na r., especialmente entre os fariseus, com os quais J. C. fez coro contra a incredulidade dos saduceus. Ele, várias vezes, se referiu à r. dos mortos (Mt 10,28; 9,43-48; 22,30ss; Jo 5,24-30; cf. Act 24,15, etc.); e anunciou repetidamente a sua própria r. depois de dar a vida por nós (Mt 16,21; 17,23; 20,19ss), identificando-a com o regresso ao Pai (Jo 16,28...). Em S. Paulo, a r. dos mortos e sobretudo a de J. C. ocupam lugar central na sua pregação e nas suas epístolas, dedicando-lhe parte de 1Ts, chegando a afirmar que, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé (cf. cap. 15 de 1Cor, em que tenta explicar como a r. se dá). No seu pensamento, e no pensamento da Igreja, a r. de J. C. é a força que assegura a r. universal. 3. A ressurreição de Jesus Cristo. A primeira notícia escrita da tradição primitiva da Igreja chegada até nós sobre a r. de J. C. data dos anos 54-57 e encontra-se em S. Paulo (1Cor 15, 3-7): «Transmito-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas (Pedro) e depois aos Doze; em seguida… a mais de 500 irmãos…; a Tiago… a todos os Apóstolos; e em último lugar a mim como que a um aborto.» J. C. morreu e ressuscitou pela Páscoa provavelmente do ano 30. Ninguém assistiu à sua r., embora os guardas ao túmulo sentissem que algo de extraordinário se passava, o que os pôs em fuga. A prova da r. foi sendo dada progressivamente aos discípulos a quem o Ressuscitado foi aparecendo ao longo de 40 dias (Act 1,3). O túmulo vazio parece só ter sido entendido como sinal da r. pelo discípulo predilecto de Jesus (Jo 20,8). As aparições encontram-se referidas nos Evangelhos, reflectindo diversas experiências e tradições. É J. C. que toma a iniciativa de aparecer, e não se dá a conhecer à primeira vista, embora insista em que é Ele mesmo, chegando a dizer que lhe toquem no corpo, vejam as chagas, e comendo à vista dos discípulos. Promete-lhes que, mesmo depois de subir ao Pai, permanecerá com eles. Sabemos que isso acontece pela sua presença activa na Igreja, e em especial na Eucaristia, e pela acção misteriosa de seu Espírito Santo, enviado na manhã de Pentecostes, para animar a Igreja e cada cristão. 4. Doutrina da Igreja. A r. gloriosa de J. C. está no coração do mistério cristão. Raramente foi posta em questão ao longo da história da Igreja. Figura no epicentro de todos os símbolos da fé. Sem ela careceria de sentido quer a presença real de J. C. no sacramento da Eucaristia, quer a r. final no fim dos tempos. Por isso a Igreja, além de centrar o anúncio da Boa Nova na r. do Senhor (a começar na pregação querigmática), celebra-a na mais solene festa do calendário litúrgico, a Páscoa da Ressurreição, e fá-lo ainda em todos os domingos do ano, em cada missa, na celebração dos sacramentos, todos eles pascais, etc. E alimenta a esperança dos fiéis com a certeza de que são chamados a morrer com Cristo, para com Ele viverem para a vida eterna, começada neste mundo (vida da graça) e em plenitude depois da morte e do fim dos tempos (vida da glória). (Cf. Cat. 638-682: 988-1060). |
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