Apresentação

Siglas e Abreviaturas

Sugestões


riqueza
1. Em geral. É a abundância de bens, os quais, na medida em que são autênticos, se devem à liberalidade divina. Há bens naturais e bens so­brenaturais. Estes últimos (*graças, *virtu­des, *dons do Espírito Santo, *carismas...) são os mais nobres, porque le­vam à *santidade, mas nem sempre são os mais apetecidos. Quanto aos bens de ordem natural, podemos distinguir: a) bens económicos, que se destinam a sa­tis­fazer as necessidades correntes da vida, especialmente corporais (alimentação, vestuário, casa, saúde, confor­to…), cuja falta se faz sentir de forma mais premente nos casos de fome, doen­ça, miséria…; b) bens do espírito, que valorizam a vida intelectual e capacitam para adquirir e apreciar correctamente os outros bens (inteligência, for­ça de vontade, sensibilidade, educação, cultura, qualificação profissional…). É dos bens de ordem natural que a seguir se trata, à luz da Doutrina Social da Igre­ja (DSI). 2. Produção e dis­tri­bui­ção da riqueza. Assegura-nos a revelação cristã que Deus tudo criou para o homem, a quem disse: «cres­cei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra» (Gn 1,28). É sobretudo pelo *trabalho que o homem tira da natureza todos os bens de que necessita, fazendo-o, po­rém, depois do *pecado original, «com o suor do rosto» (Gn 3,19). É aforismo da DSI que os bens da natureza foram concedido ao conjunto dos homens, de todos os lugares e tempos, pelo que eles, para além de produzirem riqueza, de­vem procurar que ela se distribua equitativamente por todos. Depende do grau de civilização a produção de bens em qualidade, variedade e quantidade, a qual depende das tecnologias, da organização do trabalho e da qualificação dos trabalhadores. O contraste é hoje flagrante, quer entre as classes mais e menos evoluídas de cada comunidade política, quer, em âmbito planetário, entre os países ricos do Norte e os pobres do Sul. Tal diferença, além de origi­­nar níveis de vida muito diversos, ten­de a levar os detentores de maior ri­que­za a dominar e até a explorar os mais pobres e incapazes, o que vai contra a justiça e a ordem original. A solução, que numa fase imediata pode incluir a esmola de bens de primeira necessida­de, está sobretudo em, pela promoção cul­tural e ajuda técnica, capacitar as populações pobres a tirar da natureza, com trabalho produtivo, os bens de que necessitam para uma vida digna. A Igre­ja, nomeadamente através do magistério pontifício, tem denunciado este estado de coisas e proposto orientações básicas a seguir pelas pessoas, estados e organizações inter­na­cio­nais. (Cf. especialmente as encíclicas sociais RN, QA, MM, PT, PP, LE, SRS; e a GS do Cons. Vat. II). 3. Atitude perante a riqueza. Os bens naturais, como dons de Deus, são em si bons, e a providência divina assegura que sempre sejam suficientes para toda a humanidade. A história diz que o engenho humano tem conseguido que a produção global de bens pode superar essas necessidades. Se há desi­gual­dades gritantes, é pelo egoísmo que, desde o pecado original, fere cada ho­mem e o leva a apegar-se aos bens des­te mundo, esquecendo o dever de os partilhar equitativamente com os demais. No fundo deste egoísmo, encontram-se os chamados *vícios capitais. J. C. alertou-nos repetidamente para esta tendência, chegando a considerar o apego aos bens terrenos (que se podem reduzir ao dinheiro) como idolatria (cf. Mt 6,24). Além de viver modestamente, J. C. elogiou o desprendimento dos Após­tolos (Mt 19,27ss), proclamou como primeira bem-aventurança a do espí­rito de pobreza (Mt 5,3) e, na pará­bola do juízo final (Mt 31-46), declarou salvos os que partilharem suas riquezas com os pobres. Note-se, no entanto, que o desapego dos bens deste mundo é compatível com a virtuosa posse deles, desde que deles se faça uso honesto, se partilhem com os necessitados e se invis­tam em causas nobres ou em empreendimentos que proporcionem traba­lho dignamente remunerado. Não faltam santos que assim procederam.


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