Apresentação

Siglas e Abreviaturas

Sugestões


sacramentos
1. Economia sacramental. Deus, infinitamente bom, só podia ter desígnios de mise­ri­cór­dia para com o homem ao “criá-lo à sua imagem e semelhança”. Apesar de ferida pelo *pecado original, a humanidade manteve, ao longo de milénios, certa cons­ciência desta realidade, alimentando a esperança de se encontrar com o seu Criador, origem e fim último da sua exis­tência, para O ouvir e entrar em contacto vital com Ele. A isto se chama ge­ne­ricamente *religião (da palavra latina re-ligare). Mas, à semelhança do que acontece no relacionamento entre humanos, que implica o recurso a linguagens – códigos de sinais que, através dos sentidos, permitem comunicar pensamentos, desejos e sentimentos –, também Deus recorre a sinais para entrar em comunicação e comunhão connos­co. Em sentido amplo, estes sinais têm o nome de sacramentos. Esta palavra, de origem latina, tinha o sentido de “juramento de fidelidade” a um pacto. Foi escolhida para traduzir a palavra grega mistérios, frequente no NT e em particular em S. Paulo, com o sentido de desígnios de salvação de Deus para com os homens. No uso cristão, ambos os termos subsistem, com a cambiante de “sacramento” ser sinal eficaz de comunicação e “mistério” ser a realidade ou dom a que o sacramento dá acesso. 2. J. C., sacramento de Deus. Diz o pró­lo­go da Epístola aos Hebreus: «Mui­tas vezes e de muitos modos falou Deus aos nossos pais nos tempos antigos por meio dos profetas: nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho» (Heb 1,1-2). Referem-se aqui duas formas de comunicação entre Deus e os homens. A primeira é a das palavras e aparições de carácter místico a pessoas carismáticas em favor do povo de Deus. A segunda, muito mais perfeita, é a da encarnação do Verbo ou Palavra de Deus (Pessoa divina) que, ao assumir uma natureza humana igual à nossa, nos revelou e tornou acessível o próprio Deus, como que O traduzindo na mais perfeita linguagem humana. Assim, J. C. é, por excelência, sacramento de Deus. Ele repetidamente afirmou: «Quem me vê, vê o Pai» (Jo 14,9, etc.). De facto, através da humanidade de J. C. alcançamos realmente a divindade comum às três Pessoas da SS. Trindade. Mas J. C., além de sacramento na sua pessoa, foi-o na sua acção, ao cumprir com toda a fidelidade o desígnio de *salvação do Pai para com os homens, dando por eles a vida no chamado mistério pascal. 3. A Igreja, sacramento de J. C. Depois de consumar a sua obra salvadora, J. C. voltou para o Pai, dei­xando de estar sensivelmente presente entre nós. Mas, no momento em que subiu ao Céu, prometeu continuar con­nosco até ao fim dos tempos (Mt 28,20). Cumpre essa promessa através da Igre­ja, sacramento vivo de J. C., a qual assegura de forma sensível e eficaz, i.e., mediante sinais sacramentais, a sua presença e actuação ao longo do tempo e por toda a terra. Esta *Igreja, que hoje é constituída por todos os cristãos em união de fé e caridade, preparou-a J. C., nos três anos de vida pública, pela sua pregação e pelo chamamento e forma­ção dos discípulos e apóstolos; nasceu do seu lado aberto; e foi sobrenaturalmente dinamizada com o envio do pro­metido Espírito Santo na manhã de Pen­tecostes. Ela manifesta-se como sacramento de J. C. quando dá testemunho de comunhão com Ele, quando anuncia o seu Evangelho e quando, na *liturgia e nos sete sacramentos, celebra e aplica o mistério pascal da sua morte e ressurreição. V. sacerdócio (ministerial e comum dos fiéis). 4. Os sete sacramentos. São canais da gra­ça, instituídos por J. C. e por Ele confiados à Igreja, que nos acompanham através da existência, para nossa santificação, edificação da Igreja e louvor da SS. Trindade (cf. CDC 840ss). Assim. O *Baptismo (Mt 28,19) faz-nos nascer para a vida nova em Cristo, na Igreja, como filhos de Deus; a *Confirmação (Act 8,14-17) faz-nos crescer espiritualmente e assumir responsabilidades na Igreja; a *Eu­caristia (Mc 14,22-25; 1Cor 11,23-26) alimenta-nos e fortalece-nos com o Pão do Céu, configurando-nos progressivamente com J. C. na entrega sacrificial que por nós fez de si e da sua vida ao Pai; a *Penitência (Jo 20,22-23) perdoa-nos os pecados, restituindo-nos a graça por eles perdida ou amortecida; a *Unção dos Doentes (Mc 6,13; Lc 9,1; Tg 5,14-15) acompanha-nos nos momentos difíceis da enfermidade de corpo e alma; a *Ordem (Lc 22,18; 1Cor 11,24) destaca para o serviço sagrado do povo de Deus aqueles que o Senhor a isso chama, conferindo-lhes especiais poderes; e o *Matrimónio (cf. Mt 19,3-6; Ef 5,22-27) santifica e robustece a vida dos casados. O Conc. de Trento declarou que os sacramentos são (estes) sete e só eles. Os três primeiros chamam-se da *iniciação cristã; o 4.º e 5.º, sacramentos de cura; e os dois últimos, sacramentos de serviço da comu­nhão (cf. Cat. 1210ss). Dos sacramentos, há três que marcam indelevelmente quem os recebe, pelo que não podem ser repetidos: o Baptismo, a Con­fir­ma­ção e a Ordem, respectivamente com o *carácter de filho de Deus e membro da Igreja, de soldado ou apóstolo de Cristo, e de sacerdote da Nova Aliança. Quanto ao ministro dos sacramentos, o bispo é o da Eucaristia e da Ordem e, ordinaria­mente da Confirmação e do Baptismo de adultos; o presbítero é o da Euca­ris­tia, da Penitência, da Unção dos Doen­tes, e ordinariamente (tal como o diáco­no) do Baptismo, que, em caso de neces­sidade, pode ser administrado por qualquer pessoa que proceda correctamente conformando-se com a intenção da Igreja; e o do *Matrimónio são os próprios cônjuges, em­bo­ra ordinariamente se exija para a validade a presença de testemunha qualificada (o clé­rigo que preside). O sinal distintivo de cada sacramento consta da “matéria” (água, óleo, pão e vinho, imposição das mãos…) e da “forma” (palavras que dão sentido à matéria). A eficácia dos sacramentos não depende da dignidade e santidade do ministro, mas da força que lhes vem de J. C., o que se costuma tra­du­zir pela expressão: actuam ex opere operato. Mas os frutos dependem das disposições espirituais de quem os recebe, pelo que a Igreja insiste na necessidade da sua devida preparação (cf. CDC 777,2). Sobre cada um dos sacramentos, V. mais pormenores nos res­pectivos lugares.


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