Apresentação

Siglas e Abreviaturas

Sugestões


sexualidade
1. Em geral. Na ordem da criação, é clara a tendência para asse­gurar a permanência das espécies de seres vivos (animais, vegetais), naturalmente perecíveis, pela via da reprodu­ção sexuada. No mundo dos animais superiores, os indivíduos são, em quase todas as espécies, diferenciados sexualmente: uns de sexo masculino e outros de sexo feminino. É o que acontece, no mais elevado grau, na espécie humana, constituída por homens e mulheres, iguais em dignidade e destino, mas dife­rentes na anatomia e fisiologia corporal e nos comportamentos psicológicos, afec­tivos e intelectuais. Nos adultos nor­mais, é especialmente forte a mútua atracção de indivíduos de sexo diferen­te, para a qual tanto pesa a força da geni­talidade como a ânsia de complementaridade de sentimentos e funções, o que contribui para a vida comunitária e social, cuja frustração é causadora dos maiores traumas. Os casos de *homos­se­xualidade reflectem uma anormalida­de, em geral sem culpa própria, para a qual se deve procurar correcção ou su­pe­ração. 2. Na Bíblia. As narrativas da criação do homem e da mulher, que se en­contram no Génesis, são duma profundidade reveladora da sua inspiração divina. Em primeiro lugar, o facto de apa­recer o ser humano a sair das mãos de Deus criador liberta a sexualidade da carga mítica das civilizações antigas, que se reflectia nos diversos ritos de fecundidade, de amor passional e de liga­ção matrimonial, inspirados pela vida aventurosa atribuída pelas tradições po­pulares aos deuses e deusas do Olimpo. Segundo a primeira narrativa do Gé­ne­sis (1,26-30), no termo da sua obra cria­dora, Deus criou o homem à sua ima­gem e semelhança; Ele os criou homem e mulher; abençoou-os e disse-lhes: “cres­cei e multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a.” Na segunda narrativa (2,21-24), Deus, para que o homem não vi­ves­se só, mas com uma companheira a ele semelhante, fez sair a mulher da cos­tela de Adão, que ficou entusiasmado ao vê-la; e deu-lhe como palavra de or­dem que “o homem deixará pai e mãe para se unir à sua mulher e os dois serão uma só carne”, frase esta que J. C. repe­tiu ao reconduzir o *matrimónio à sua dignidade original (Mt 19,3-6 e //). Até ao pecado, ambos andavam nus, sinal da perfeita harmonia da sua condição original, mas depois da queda, quebrou-se o equilíbrio entre a razão e os sentidos, e sentiram vergonha (Gn 3,25; 4,7. 16.21). Apesar de terem perdido a felicidade figurada pelo paraíso do Éden, a dignidade e missão essenciais do ho­mem e da mulher permaneceram, ainda que, ao longo dos tempos, afectadas por desvios que chegaram até nós, mesmo depois de J. C. ter reconduzido o matri­mónio à dignidade original e o ter elevado à condição de sacramento. Nos ensi­namentos do Divino Mestre, o matri­mó­nio recebeu nova iluminação ao projectar nele a sua Aliança esponsal com a Igreja (Ef 5,22-23), e ao ensinar que “olhar para uma mulher, desejando-a, é cometer adultério no coração” (Mt 6,28). S. Paulo, por sua vez, insurge-se contra a fornicação, por atentar contra o corpo que pertence a Cristo e é templo do Es­pírito Santo (1Cor 6,16-20). 3. Ética se­xual. Trata-se do correcto exer­cício da sexualidade. São três os dina­mismos da sexualidade humana: o da maturação e integração pessoal para a edificação do “eu”; o da relação interpessoal a culminar num projecto de vida aberta ao “tu”; e o das relações cruzadas que na vida social constróem o mundo do “nós”. Da­qui as três vertentes de uma correcta *educação sexual: 1) No pro­cesso de maturação pessoal, ter em conta que a sexualidade se integra no todo da pessoa, contribuindo para o desenvolvi­men­to harmónico e progressivo dos vá­rios aspectos: conhecimento da genitali­dade, domínio dos impulsos instintivos, cultivo da afectividade, abertura ao amor universal. 2) Na abertura ao “tu”, cultivar a linguagem do amor, fazendo distinção entre: a) “amor de fruição” pró­prio duma sexualidade adolescente e ima­tura, que facilmente se esgota com a perda da novidade e do prazer; b) “amor possessivo”, a denunciar uma sexuali­da­de neurótica a tra­duzir-se em agressi­vidade egoísta; c) “amo­r oblativo”, o único que dá sentido à sexualidade, na comunhão recí­proca vivida no inter­câm­bio pessoal de doação e aceitação, que alcança a sua natural expressão na vida conjugal. Este “amor oblativo” tam­bém deve existir nas diversas formas de relação interpes­soal, designadamente na amizade, e atin­ge nível sobrenatural na caridade cristã e na virgindade ou celibato consagrados. 3) Na cons­trução do mundo do “nós”, surge como própria da voca­ção matrimonial a passagem da comunidade conjugal para a comunidade ­familiar, pela geração e educação da prole, em que os progenitores se projec­tam no futuro. Mas alar­ga-se ainda ao “nós social” pela defesa e promoção dos mais fracos e das cau­sas nobres, e pela contribuição generosa para o bem comum. Aspecto particular é o da vigi­lância a exercer sobre as ma­nifestações públicas do sexual, tendo em conta a fra­gilidade das crianças, dos jo­vens e dos adultos humanamente ima­turos. NOTA: No processo de *educa­ção se­xual devem ter-se em conta: 1) os novos conhecimentos científicos sobre a fisio­logia e psicologia sexuais, que a comunicação social rapidamente divulga; 2) a evolução cultural, que tanto esconde como alardeia aspectos importantes da vida sexual; 3) o temperamen­to e a formação de base das diversas pes­soas, especialmente das crianças e dos jovens. Do ponto de vista cristão, é decisivo levar ao conhecimento e esti­ma de todos a virtude da *castidade, o que é difícil num mundo dominado pelo erotismo e em que é deficiente a capa­cidade educativa da família, da escola e da Igreja. (Cf. Cat. 2331-2336). V. cas­ti­da­de, educação sexual e Matrimónio.


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