Apresentação

Siglas e Abreviaturas

Sugestões


vida
1. Vida biológica. As várias acep­ções que a palavra v. admite partem do conhecimento comum, científico e filo­só­fico que temos dos animais, plantas e microrganismos a que chamamos vivos, ao contrário dos seres inanimados. Tal conhecimento diz-nos que os seres vi­vos se caracterizam por uma complexa organização interna, permanente dina­mismo desde o seu aparecimento até à sua morte, captação do exterior da ener­gia necessária a esse dinamismo, e ca­pa­cidade de se multiplicarem ou reproduzirem dando origem a outros seres iguais. A reflexão filosófica tem osci­la­do ao longo dos séculos entre dois prin­cípios a que se pode atribuir a v.: o me­canicista (que acredita na organização progressiva da matéria, por força do aca­so ou de leis físicas, levando à evo­lu­ção das espécies) e o vitalista (que acre­dita na intervenção de uma “alma” que informa, especifica e dinamiza o ser vivo). Aristóteles sublinhou no conceito de ser vivo o movimento imanente. To­más de Aquino, a partir desta visão, tornou aplicável a Deus, por analogia, o conceito de Ser vivo, frequente na Es­cri­tura. 2. A vida em Deus. Atestam-nos a criação e a revelação que Deus não é um ser inerte, mas activo, quer na sua acção criadora e conservadora de quanto existe fora dele, quer na sua vida íntima. No entanto, como ser espiritual perfeitíssimo que é, não sofre qualquer mudança. É acto puro de inteligência e de amor. Ao expressar o conhecimento que tem de si mesmo, é como Pai que gera o Filho; e ambos se identificam no amor pessoal do Espírito Santo (V. Trin­dade, SS.). Num excesso de amor gratuito, quis alargar a comunhão da vida trinitária a seres espirituais distintos de si, criando, por um lado, os *anjos e, por outro, o *homem feito à sua ima­gem e semelhança, elevando-o à con­di­ção de filho adoptivo no Filho por natu­reza. Esta nossa condição permite, com a luz da graça, chegar ao conhecimento da vida íntima de Deus e de nela partici­par. 3. Vida humana. Diz-nos a experi­ên­cia, esclarecida pela revelação, que o ser humano, além da vida biológica semelhante à dos outros seres vivos do mundo sensível, tem uma vida intelectual que se traduz pela consciência que tem de si mesmo, pela compreensão das realidades interiores e exteriores, e pela capacidade de opções livres. Esclarece a revelação que, no primeiro instante da vida biológica, é infundida em cada ser humano uma alma espiritual, que o tor­na distinto dos demais seres do mundo sensível. E mais que isso, foi chamado a uma participação real na natureza e vida de Deus, que lhe assegura felicidade plena e eterna. Porém, pela queda de nossos primeiros pais, tal prerrogativa ficou frustrada; mas, pela miseri­córdia divina, foi recuperada pelo mistério de um Deus que se fez Homem e se sacrificou para de novo nos abrir as por­tas à condição de filhos de Deus. À realização deste projecto dá-se o nome de vida sobrenatural, também dita vi­da divina, vida da graça ou vida cris­tã. Traduz-se no exer­cício das *virtudes cristãs e *dons do Espírito Santo. 4. Vi­­da moral, vida mística. O homem não aparece nem vive isolado no mun­do. Fruto da união de um par humano, sur-ge e cresce numa comunidade fami­liar, a qual, por sua vez, se insere com outras em grupos cada vez mais vastos e diferenciados. É, portanto, um ser emi­nentemente relacional. Se isso é para ele uma vantagem, pode também ori­ginar conflitos por efeito da tendência egoís­ta para se afirmar e se apro­veitar das fraquezas alheias. Desperta assim a consciência do bem e do mal, dos direi­tos e dos deveres, cuja prática constitui o cerne da vida moral. Em auxílio desta consciência, gravada no mais fundo do ser humano, veio Deus com a proclamação dos mandamentos da sua Lei e com o auxílio das graças actuais propor­cionando luzes e forças para os cumprir. Na vida moral pode­mos considerar três níveis. O primeiro é o da natureza humana que, apesar de ferida pelo pecado original, guarda a consciência do bem e do mal e capacita para o bem pelo exer­cício das virtudes naturais. O segundo é o da graça, que eleva a natureza huma­na a uma ordem divina, permitindo actuar sobrenaturalmente pelo exercício das virtudes cris­tãs. O terceiro é o da vida mística, pró­pria dos mais adiantados espiritualmente, nos quais predomi­na a acção, como que a modo de instinto divino, dos chamados dons do Espírito Santo. 5. Vida social. Eminentemente relacio­nal, cada ser humano necessita dos ou­tros para melhor encontrar res­pos­ta às suas necessidades e se sentir mais seguro e feliz. Com o crescimento e con­cen­tração das populações e com o progresso técnico (que tem sido extre­ma­­men­te rápido nos últimos tempos), a sua vida social não cessa de se compli­car: por um lado, consegue melhores res­postas às necessidades cada vez mais sentidas, o que lhe dá mais possibilida­des de realização pessoal; e, por outro, é maior a dependência das outras pessoas com quem convive. Duas condi­ções são necessárias para que uma tal vida social decorra favoravelmente: uma boa organização social, assegurada pelo Estado e pela comunidade; e uma cuidada preparação das pessoas para este género de vida. De contrário, cai-se no deficiente funcionamento da vida colectiva, torna-se impossível responder às ânsias dos cidadãos, e não raro se geram tensões e se cai na anarquia. Da­qui a necessidade de conhecimento apro­fundado da vida social e de suas regras, e de um esforço por as levar à prá­tica, com a colaboração harmónica da sociedade civil, do Estado e da Comu­ni­dade Internacional. A Igreja tem dado o seu contributo, sobretudo desde o séc. XIX, pela proposição da chamada *Dou­trina Social da Igreja e pela acção edu­cativa e sociocaritativa das suas diversas estruturas. 6. Outras expressões da vida. No uso da Igreja, por analogia, o termo vida aparece em expressões que definem realidades diversas: a) Vida sa­cerdotal. É a própria dos sacerdotes (especialmente dos presbíteros, mas também em certa medida dos bispos e dos diáconos) chamados a consagrarem-se ao exercício da tríplice missão da Igreja, de ensinar, santificar e governar os fiéis; b) Vida religiosa. Em sentido restrito, iden­tifica-se com o “estado religioso”, pró­prio das pessoas consagradas que emitem votos dos conselhos evangélicos; c) Vida espiritual. Termo usado habitualmente para designar a vida da gra­ça ou vida sobrenatural. Sobretudo entre os religiosos, ela diz-se vida activa, quan­do predominantemente dada a for­mas externas de apostolado ou acção sociocaritativa, e vida contemplativa, quando principalmente dada à peni­tên­cia e à oração; d) Vida comum. Sendo própria dos institutos religiosos e das sociedades de vida apostólica, é reco­mendada, em determinadas circunstâncias, ao clero diocesano; e) Vida pastoral. É o desenrolar das actividades pró­prias daqueles que têm cura de al­mas em favor de seus diocesanos ou paro­quianos, incluindo catequese, liturgia, animação espiritual e apostólica, etc.; f) Vida matrimonial. Pró­pria das pes­soas casadas, quer no relacionamento conjugal, quer nos cuidados com os filhos e a casa da família.


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