Apresentação

Siglas e Abreviaturas

Sugestões


demónios, Satanás, Diabo
1. Os de­mó­nios. Nas civilizações primitivas acre­­ditava-se que a vida humana era influenciada, para o bem e para o mal, pelos espíritos dos mortos e por outros se­res imaginários que, na versão gr. da Bí­blia, têm em geral o nome de de­mó­nios. Estes, depois, foram aparecendo como os causadores de males aos ho­mens. No AT e no NT são chamados tam-bém “es­pí­ritos maus” ou “im­pu­ros”, aos quais são atribuídas doenças, sobretudo do foro neurológico. O forte mono­teís­mo do povo de Israel atenuou a influên­cia das demonologias das civi­lizações com que esse povo contactou (as do Mé­dio Oriente e do Egipto). Atribuía-se então a Javé tudo o que de bom e de mau acontecia aos homens. De­pois do aprofundamento religioso promovido pelos profetas do exílio e do pós-exílio, a ideia da santidade e mi­sericórdia de Deus favoreceu o re­gresso à crença de que os males hu­ma­nos se devem à ac­ção dos espíritos de­moníacos, sendo provável que para isso tenha contri­buí­do a demonologia persa com a qual os judeus estiveram em contacto nos 40 anos do exílio. No NT, o termo *de­mó­nio é usado (63 vezes) no mesmo sentido do AT e do ju­daís­mo do tempo. Os d. seduzem o ho­mem, apoderam-se dele (possessão), causam-lhe males. J. C. veio dar-lhes combate, libertando os ho­mens do seu poder. Por vezes os d. expulsos são mui­tos. J. C. chega a ser mal­dosamente acusado de expulsar os d. em nome de *Belzebu, o chefe deles (Mt 12,22 e //). O poder de J. C. sobre os d. começa a aparecer como símbolo da sal­vação. Os Apóstolos recebem poder de continuar esta luta vitoriosa. 2. Sa­ta­nás e Diabo. São termos que se alternam na Bíblia para designar uma en­tidade espiritual relacionada com os *demónios, mas distinta deles. Satã ou Sa­tanás (do hebr. através do gr. = adver­sário, acusador, tentador) e Diabo (do gr. = caluniador) aparecem no AT qua­se sempre como nomes comuns ou co­mo figuras pouco definidas. Mas no NT os dois termos (Satanás, 36 vezes, e Dia­­bo, 34 vezes) identificam, em geral, um po­deroso inimigo de J. C., arrastan­do na sua luta contra Ele os demónios, de que é chefe. Aparece ainda com o no­me de *Maligno e os epítetos de “prín­­ci­pe do mundo” (Jo 12,31), acusa­dor, dra­gão e serpente (Ap 12). Nos evan­­ge­lhos sinópticos, começa, no de­ser­­to, por tentar afastar Jesus da sua mis­são, num paralelismo claro com a tenta­ção em que caíram os nossos pri­meiros pais no Éden. É também significativo que J. C. tenha chamado “satanás” a Pe­dro que o queria demover da sua missão; e que o Evangelho diga que Satanás en­trou em Judas quando decidiu trair o Mes­tre. Na parábola do semeador, o Dia­­bo tira a palavra semeada, para que não produza fruto. No entanto, só nos es­­critos do NT, mais tardios, Satanás apa­rece a opor-se frontalmente a J. C., tentando destruir a própria huma­ni­da­de. É a serpente do paraíso (Ap), um “antideus”, o “deus deste mundo”, o “Anti­cristo”. Mas, a sua força foi que­bra­da pelo sacrifício de J. C., e a sua com­pleta submissão dar-se-á no fim dos tempos, quando for lançado no lago de fogo (*Inferno). Porém, até lá, continua a ten­tar os homens, às vezes disfarçado de “anjo de luz” e outras co­mo “leão rugidor”. Por isso, J. C. e de­pois os Após­to­los insistem na vigilância e nas estratégias espirituais de de­fesa, entre as quais a oração, como a do Pai-Nosso que termina precisamen­te com o pedido de que Deus nos livre do *Maligno. 3. Dou­tri­na da Igreja. Na origem da tentação e queda dos nossos primeiros pais, ouve-se a voz sedutora, oposta a Deus, que a Bíblia e a Tradição atri­buem a Satanás ou Diabo (cf. Cat. 391ss). Ele foi criado bom e livre por Deus, mas, no instante da criação, ele e outros anjos, recusaram irremediavelmente submeter-se ao Cria­dor e foram ex­pulsos do Céu. O Diabo é pecador des­de o princípio e pai da men­tira. Na sua revolta, tenta os ho­mens e procurou mes­mo desviar J. C. da sua missão re­den­tora (tentações no deserto). Mis­te­rio­samente, depois do pe­cado original e do regresso de J. C. ao Pai, o Diabo mantém algum poder de sedução para o mal, a que no entanto po­demos sempre, com a graça, resistir me­ritoriamente, para glória de Deus. J. C. deixou à Igre­ja poderes para com­ba­ter a influência do Demónio, e ela exer­ce-os nomeadamente através dos *exorcismos maiores (nos casos de *pos­sessão diabólica) e os menores (incluídos nos ritos catecumenal e baptis­mal), e ainda em diversos sa­cramentais. Cf. Ritual Romano, Cele­bração dos Exorcismos.


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