|
Espírito Santo |
1. No AT, espírito (em hebr., ruah; em gr., pneuma), normalmente ligado ao nome de Deus (de Javé; de Eloim) significa poder divino, força vital, condizente com o significado original de respiração, sopro, vento. A expressão “Espírito Santo” surgiu posteriormente, quando os Hebreus, com receio de pronunciar o inefável nome de Deus, o substituíram por “Santo”. Não aparece ainda o carácter pessoal que lhe veio a dar a tradição cristã; quando muito, uma certa personificação da força divina. 2. No NT, nos livros de redacção mais antiga, o E. S. continua a ter o sentido de poder de Deus, de virtude purificadora e santificadora, por vezes transmitido pela imposição das mãos. Nos Evangelhos sinópticos, com excepção da fórmula trinitária do Baptismo em Mt 28,19, não há ainda clara referência ao E. S. como pessoa divina. Nas cartas paulinas, só em 1Cor 12,4-11 e 2Cor 13,13, o E. S. aparece claramente como pessoa. Já os *Actos reconhecem o carácter pessoal ao E. S. (8,29; 10,19-20; 13,12; 16,6-7…). Mas é a segunda parte do Evangelho de João (14ss) que fornece dados seguros para uma teologia do E. S. como Pessoa Divina. Aí, J. C. já fala dele, do seu relacionamento com o Pai e o Filho, da sua missão junto da Igreja e dos fiéis. 3. Nos ensinamentos da Igreja. A crença num Deus Uno e Trino surge nos primórdios da Igreja, sobretudo na liturgia baptismal e eucarística, nomeadamente nos hinos e nas *doxologias. Porém, quando se entrou na especulação teológica, surgiram graves dificuldades pela imprecisão de conceitos e de terminologia, o que levou ao aparecimento de muitas heresias, que os primeiros concílios ecuménicos foram dirimindo. O Conc. de Niceia (325) afirmou a *consubstancialidade do Pai e do Filho, e o I de Constantinopla (381) acrescentou ao Credo de Niceia a profissão de fé no Espírito Santo como Pessoa divina que procede do Pai e do Filho. Surgiu, posteriormente, a controvérsia entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente. Enquanto aquelas optavam pela expressão “o E. S. procede do Pai pelo Filho” (visão mais dinâmica da SS. Trindade), a Igreja latina optou pela expressão que hoje empregamos do “E. S. procede do Pai e do Filho, como de um único princípio” (visão mais estática). Hoje, ambas são passíveis de interpretação correcta, pelo que já não constituem óbice doutrinário à unidade entre Católicos e Ortodoxos. 4. O E. S. na vida e acção de Deus. Na vida íntima de Deus, assim como o Verbo divino procede do Pai por via do conhecimento (é a Palavra por que o Pai se exprime plenamente) o Espírito Santo procede de Ambos por via do amor, que os identifica e une. Cada uma das três Pessoas tem de comum com as outras a única essência divina, cada uma delas é o único Deus. O que as distingue no círculo da vida trinitária é a relação que entre elas se estabelece pelas vias do conhecimento e do amor. A acção de Deus fora da sua vida íntima é comum às três Pessoas. No entanto, a teologia atribui a cada uma delas o que é mais afim com a sua originalidade pessoal. É o que se chama *apropriação. Ao Pai atribui a criação; ao Filho, a obra redentora; ao Espírito Santo, a acção vivificante e santificadora que aperfeiçoa e une a Deus por via do amor. 5. A acção do E. S. em J. C. Para restabelecer da mais maravilhosa forma o projecto divino a nosso respeito frustrado pela pecado, o Pai mandou à terra seu próprio Filho a salvar a humanidade. Obra de amor, foi pelo E. S. que Ele incarnou no seio da Virgem Maria. O mesmo E. S. infundiu em J. C. a graça da união, pela qual a natureza humana de J. C. subsiste na Pessoa divina do Verbo, e ainda a plenitude dos seus dons (cf. Lc 4,16ss). O E. S., que no início da vida pública desceu sobre J. C. no Baptismo do Jordão, acompanhou todos os seus passos, até ao momento supremo do sacrifício da cruz. E, depois de morto, a sua ressurreição lhe é atribuída juntamente com o Pai e o próprio J. C. glorioso. 6. A acção do E. S. na Igreja. Antes de dar a vida pela salvação do mundo, J. C. prometeu que ficaria presente (sacramentalmente) na sua Igreja e que sobre ela enviaria o E. S. para lhe recordar as verdades reveladas aos Apóstolos, fortalecê-la e dinamizá-la no exercício da sua missão. Assim aconteceu na manhã de Pentecostes e continua a acontecer ao longo dos séculos, assegurando nela a infalibilidade da sua doutrina e a indefectibilidade da sua acção. O E. S. é especialmente invocado na administração dos sacramentos e sacramentais e no exercício do magistério. 7. O E. S. em cada baptizado. Segundo a promessa de J. C., o cristão é baptizado na água e no E. S. (palavras que directamente se referem aos sacramentos do *Baptismo e da *Confirmação). Ele habita no fiel em graça como num templo e concede-lhes os seus dons: virtudes, dons do Espírito Santo, carismas, inspirações, moções. Tal presença santifica o cristão e conforma-o com J. C., dá-lhe a consciência de que pode tratar Deus por Pai e, se permanecer fiel até ao fim da vida, abre-lhe as portas do Céu. Tudo isto apela a uma grande devoção ao E. S., elevando o pensamento a Ele, acolhendo pressurosamente os seus dons, nada fazendo que O entristeça, celebrando-O com alegria na liturgia. 8. Nomes e símbolos do E. S. a) Na Escritura: Paráclito e/ou Advogado (Jo 14,16.26; 15,26: 16,7), Consolador (1Jo 2,1), E. de Verdade (Jo 6,13), E. de Promessa (Gl 3,14; Ef 1,13), E. de Adopção (Rm 8,15; Gl 6,6), E. de Cristo (Rm 8,11), E. do Senhor (2Cor 3,17), E. de Deus (Rm 8,9.14; 15,19), E. de Glória (1Pe 4,14); b) Nos textos litúrgicos: Pai dos pobres, Dom excelente, Luz, Fonte de consolação, Hóspede da alma, Descanso no trabalho, Brisa nas horas do fogo, Gozo que enxuga as lágrimas; c) Símbolos: Água, Unção, Fogo, Nuvem e Luz, Selo, Mão, Dedo, Pomba, Ar e Vento, Línguas de fogo. (Cf. Enc. de João Paulo II *Dominum et vivificantem (1986); Cat., oitavo artigo do Credo, 687-750). |
É expressamente interdita a cópia, reprodução e difusão dos textos desta edição sem autorização expressa das Paulinas, quaisquer que sejam os meios para tal utilizados, com a excepção do direito de citação definido na lei. |