Apresentação

Siglas e Abreviaturas

Sugestões


homem (ser humano)
É, na experiência comum, na investigação científica, na reflexão filosófica e na revelação cristã, que encontramos resposta para as grandes interrogações que, ao longo de milénios, o h. foi formulando sobre si mesmo, sua origem, sua condição, sua razão de ser, seu destino para além da morte. O Conc. Vat. II, na primeira parte da *Gaudium et spes (sobretudo nn. 11-18), oferece-nos uma visão abran­-gente de toda esta problemática, num estilo dialogante com o pensamento moderno. 1. O que diz a ciência. A investigação antropológica afirma a unidade de todo o género humano e a sua origem em tempos muito remotos (há cerca de dois milhões de anos), des­tacando-se da cadeia evolutiva de ou­tros primatas por força de uma inte­li­gência e vontade livre que o tornaram rei da criação. Cada h. começa a existir no momento da fecundação dum óvulo materno por um espermatozóide paterno; desenvolve-se no útero da mãe ao longo de meses, até ver a luz do dia. Prossegue a sua evolução passando pelas diversas fases da vida até à morte biológica. Dizem os cientistas que a espécie humana está geneticamente programada para uma duração de cerca de 120 anos, mas, na realidade, não faltam acidentes na vida que apressam o momento decisivo de *morte física ou bio­lógica. O momento desta morte é angustiante segredo. Também a ciência e mesmo a filosofia nada dizem do que acontece para além da morte. Só o ins­tinto espiritual de cada homem e da humanidade assegura que a morte não é aniquilamento e que a existência humana tem continuidade para além dela. 2. O que diz a revelação. Esta revela­ção, que se encontra na Bíblia e na Tra­di­ção que o Magistério da Igreja interpreta autentica­men­te, completa a visão científica da origem e natureza do h. Começa por dizer que “o homem é a úni­ca criatura sobre a terra que Deus quis por si mesma” (Conc. Vat. II, GS 24); tudo o mais foi criado para ele. As narrativas bíblicas da criação (Gn 1,26-29; 2,4-24) são de grande riqueza de ensinamentos. Deus, a coroar a sua obra criadora, criou o h. (o ser humano), do­tando-o, desde o primeiro momento da sua existência, de uma alma espiritual e imortal, fazendo-o à “sua imagem e se­melhança” (Gn 1,20). Entende-se, em geral, por estas duas palavras, por um lado, a natureza intelectual e livre do h., que o torna capaz de conhecer e amar, e por outro lado, uma especial ele­vação das suas faculdades que o torna capaz de penetrar no mistério e na vida íntima de Deus. Fê-lo homem e mulher, iguais na mesma essência, dignidade e herança eterna, mas diferentes e com­ple­men­ta­res na sua fisiologia e psicologia, naturalmente destinados a assegurar, através da instituição familiar, a unidade e o ­desenvolvimento da espécie humana. Acrescenta a reflexão cristã que a comunidade de vida, que o Gn 2,24 exprime por os dois se tornarem “numa só carne”, com o fruto dos filhos, reflecte o mistério de Deus uno e trino na comunhão de luz e de amor entre as três Pessoas Divinas. 3. Elevação à or­dem sobrenatural. Diz a revelação que o h., na sua origem, foi elevado a uma ordem sobrenatural, permitindo-lhe uma visão e desejo de Deus que o impele na paz e alegria para a comunhão viva com o seu Criador, Senhor e Pai, comunhão essa que alcança a plenitude ao entrar, no termo da sua vida mortal, na eternidade sem fim. A isenção da morte, que a tra­dição católica atribui ao estado de jus­tiça original poderá entender-se como transição suave do tempo para a eter­ni­dade, da caminhada na terra para a entrada no Céu (à semelhança de Assun­ção da SS. Virgem). 4. A queda original. O h. não poderia realizar a sua vocação fundamental de amar a Deus com todas as veras, se não fosse livre, por­quanto não há amor sem liberdade, sem livre entrega pessoal à pessoa ama­da. Ao criá-lo livre, Deus quis correr o risco de receber um não da parte dele. E foi o que aconteceu, segundo os desíg­nios insondáveis do Criador. Pela revelação do *Génesis (cap. 3), sabemos que os nossos primeiros pais, tentados por Satanás (= Tentador), duvidaram da palavra de Deus e desobedeceram à sua vonta­de. Pecaram. E com o pecado, per­deram o es­tado de justiça original (*estado de graça), perderam o domínio das faculdades espirituais sobre os sentidos, e perderam ainda a isenção da mor­te no sentido acima referido. Tal estado des­graçado é bem sentido por cada ho­mem e pela humanidade inteira, onde o pe­ca­do se faz sentir com o seu cortejo de so­frimentos, inquietações e males. 5. A miseri­cór­dia divina. Por muito grave que tenha sido o pecado original, a pon­to de se repercutir na própria natu­reza humana, afectando todos os ho­mens que vêm a este mundo, a miseri­córdia de Deus é infinitamente superior, como se mani­festou na reparação da que a liturgia proclama *“felix cul­pa”. Assim, na revela­ção do *Génesis (3,15), encontra-se o “proto-evangelho” ou pri­meiro anúncio da boa nova da redenção. E sabemos, pela reve­lação cris­tã, que Deus de tal modo amou o h., mesmo pe­cador, que lhe enviou seu Filho, a fa­zer-se homem como ele (excepto no pecado), para, com o seu su­premo sa­cri­fício da morte no Calvário e a sua gloriosa ressurreição, o remir do pecado e lhe abrir de novo as portas do Céu. A entrada na glória faz-se agora em plena comunhão com J. C. ressuscitado e glorioso. A reparação do plano de Deus, frustrado pela queda original, superou o projecto inicial, ao associar, já no tem­po, a natureza humana à pessoa divi­na do Verbo, e ao associar o termo da exis­tência terrestre de cada homem à morte e ressurreição de J. C.: “Quem com Cris­to morrer, com Cristo viverá.”


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