No espaço de uma geração, de 1989 a 2021, a U.E. mudou em muitos aspetos e o mundo também mudou dramaticamente. Por isso, não nos surpreende que o papel desempenhado pela U.E. noutras partes do mundo e na cena mundial tenha, também ele, mudado. Porém, numa retrospetiva destes últimos trinta anos, estas mudanças parecem ser mais uma adaptação a fatores externos para defesa de interesses de curto prazo. Parecem-nos menos movidos por uma visão baseada em valores por parte dos cidadãos europeus e dos seus dirigentes políticos.
A U.E. mudou em especial pelas razões seguintes:
- um número maior de Estados membros (há 30 anos quase todos os Estados membros tinham um passado colonial e/ou imperial; hoje esses Estados são uma minoria e a geração de políticos com experiência direta desses tempos desapareceu…) e um a menos (Brexit)
- políticas mais integradas, especialmente através do euro e da política monetária comum… e a reafirmação dos Estados membros
O mundo mudou pelas razões seguintes:
- a aceleração das mudanças climáticas
- as consequências sociais e económicas da pandemia da Covid-19, especialmente no que diz respeito ao agravamento da desigualdade entre pessoas e nações
- o desencadear de uma nova corrida aos armamentos e a relutância em assumir compromissos com novos tratados de desarmamento
- o número crescente de pessoas deslocadas
- o enfraquecimento do Estado-Nação e, simultaneamente, o reforço do sentimento nacionalista
Como reação a essas mudanças e em comparação com as suas origens, parece-nos o seguinte a respeito das políticas externas da E.U.:
- tornaram-se mais flexíveis para responder a um número cada vez maior de situações de crise (desastres naturais e humanitários), mas são agora menos orientadas numa perspetiva de longo prazo
- mais burocráticas, com separação de políticas e de gestão de projetos (de desenvolvimento) e, por isso, tornaram-se menos integrados
- mais orientadas para os Estados membros e menos “europeias” na sua motivação
Para o futuro da Europa, nós, membros/comissão executiva/presidência da plataforma católica “Justiça e Paz Europa”, queremos, por isso, exprimir a nossa esperança de que a União Europeia se revele como:
- um poder amante da Paz e promotor da Paz com um forte empenho no controlo dos armamentos e do desarmamento (nuclear).
- um defensor da justiça climática, um ator de mudança sistémica e pelos direitos das gerações futuras
- um agente decisivo na luta contra a pobreza e a desigualdade no mundo e pela implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
- um forte promotor dos direitos humanos de todos, incluindo migrantes e refugiados
- um defensor global da liberdade de expressão e de religião, do Estado de Direito e do respeito pela dignidade humana e pela diversidade cultural
- um agente pioneiro na promoção de um novo e coerente padrão de respeito pelos direitos humanos por parte das atividades empresarias e de uma gestão empresarial sustentável
- um bom e confiável vizinho e parceiro, promovendo o desenvolvimento humano integral e a segurança humana nas áreas geográficas que lhe estão próximas
- uma força integrador num momento em que uma nova dicotomia estratégica entre a China e os Estados Unidos surge no horizonte global
Lovaina, 4 de outubro de 2021
A Assembleia Geral de “Justiça e Paz Europa”
A Conferência das Comissões Justiça e Paz Europeias (“Justiça e Paz Europa”) é uma plataforma europeia de 31 comissões nacionais Justiça e Paz que trabalha pela promoção da justiça, da paz, do respeito pela dignidade humana e do cuidado pela criação. Contribui para um maior conhecimento da doutrina social católica nas sociedades europeias e nas instituições europeias. É presidida atualmente por D. Noel Trenor, bispo de Down e Connor (Belfast)
[1] Para preparar este contributo para a Conferência sobre o Futuro da Europa, “Justiça e Paz Europa” organizou um webinar especial sobre o tema do Papel da U.E. no mundo a 14 de setembro de 2021. A presidência de “Justiça e Paz Europa” deseja agradecer a todos os participantes presentes neste evento on line e todos os que para ele colaboraram.