Por um voto pelo espírito europeu
Nota da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga sobre as eleições para o Parlamento Europeu
Quando, no próximo dia 9 de Junho, forem chamados a votar para eleger os seus representantes no Parlamento Europeu, os cidadãos têm uma União Europeia profundamente alterada por uma crise mundial de saúde pública, a pandemia de Covid-19; pela saída da União Europeia de um importante país-membro, o Reino Unido; e por ter às portas uma guerra, resultante da invasão da Ucrânia pela Rússia. O novo panorama, conjugado com outros problemas, tem tido consequências económicas, políticas e sociais que se têm feito severamente sentir.
Concebida pelos seus fundadores fundamentalmente como um espaço de paz e de prosperidade, em que o confronto político proporcionava um benefício democrático, a União Europeia vive, hoje, um momento de polarização amiúde com contornos de enorme violência. Os populistas têm aumentado o número de seguidores, conseguindo, em muitos sítios, disseminar o racismo e a xenofobia, a discórdia e o medo.
Mas a Europa é também, em várias das suas latitudes, um profícuo laboratório de concórdia, um modelo de civismo cosmopolita. A Europa, como afirmou, há dez anos, o Papa Francisco, num discurso ao Parlamento Europeu, deve alimentar uma “esperança assente na confiança em que as dificuldades se podem revelar, fortemente, promotoras de unidade, para vencer todos os medos que a Europa – juntamente com o mundo inteiro – está a atravessar”. Uma esperança assente “no Senhor que transforma o mal em bem e a morte em vida”.
A União Europeia, é sabido, tem entre os seus fundadores políticos cristãos e tem sido vivamente incentivada por sucessivos Papas.
A Europa, como “comunidade de povos”, deve “participar activamente na promoção e realização duma globalização ‘na’ solidariedade. Esta supõe, como sua condição, uma espécie de globalização ‘da’ solidariedade” com valores e direitos humanos fundamentais, disse João Paulo II na Exortação Apostólica Ecclesia in Europa.
A “defesa da qualidade da vida das pessoas” requer que a edificação dessa Europa, “vista como comunidade de povos e de pessoas, uma comunidade solidária na esperança”, salvaguarde a dignidade humana, não a sujeitando às leis do mercado.