Comissão Nacional Justiça e Paz

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A PROXIMIDADE, CAMINHO DE ESPERANÇA, Reflexão CNJP, Quaresma 2025

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Reflexão Quaresmal 2025



A PROXIMIDADE, CAMINHO DE ESPERANÇA

Reflexão da Comissão Nacional Justiça e Paz para a Quaresma de 2025

A reflexão quaresmal, desta vez, traz o coração apertado porque, enquanto fonte inspiradora da nossa reflexão, o Papa Francisco vive a ‘sua’ Quaresma desafiando-nos a que «caminhemos juntos na esperança».
E a esperança é a nossa alma.
De facto, o “juntos” não é um amontoado, mas a presença fraterna de uma ‘caminhada com’ e nunca solitária, por mais autossuficientes que nos consideremos.
Olhamos à nossa volta e o nosso coração é invadido por tantas interrogações e perplexidades.
A solidão dita as suas leis avivando as feridas da indiferença.
Vivemos um farisaísmo genérico onde nos agarramos à lei e aos protocolos em vez da pessoa; vivemos o cinismo do abandono dos mais velhos e de quem não é produtivo; vivemos a solidão das crianças na sua autorreferencialidade, dos adolescentes e dos jovens que não veem perspetivas de futuro, sem experimentarem a felicidade de uma relação de reciprocidade fora dos ecrãs em que vivem agarrados; vivemos um desnorte com uma educação ilusória onde a aprendizagem se crê isenta de dificuldades e necessidade de esforço; vivemos medrando numa alergia à vida nas suas várias etapas; vivemos indiferentes ou acirrados contra migrantes separados das suas famílias e sujeitos a condições miseráveis, indiferentes ao tráfico humano de mulheres para a prostituição e de crianças vendidas para pedintes aproveitando-se da nossa ‘pena’ por uma infância desvalida.
O impensável parece poder acontecer num mundo que, tendo já experimentado tantas vezes a loucura da guerra, não é capaz de romper a atração pelo abismo bélico.
Podemos ser tentados a baixar os braços, a sentir a derrota, a não abraçar a dor com nome próprio, a não saborear as lágrimas amargas da solidão ou do desespero.
Ligamo-nos a equipamentos tecnológicos que nos permitem chegar a tantos e que ao mesmo tempo exacerbam o nosso individualismo.
Mas nenhuma dessas vias trará resposta aos nossos problemas.
A mudança só é possível através da criação de redes de proximidade e de uma paz que recusa a ambição económica sem escrúpulos. De uma paz que se constrói com investimento na cooperação e na solidariedade. Pois, como diz o Papa na sua mensagem, «Caminhar juntos significa ser tecelões de unidade, partindo da nossa dignidade comum de filhos de Deus; significa caminhar lado a lado, sem pisar ou subjugar o outro, sem alimentar invejas ou hipocrisias, sem deixar que ninguém fique para trás ou se sinta excluído».
Todos temos a mesma dignidade.
É este caminho conjunto que deve aprimorar no nosso coração a vizinhança e o acolher “misericordiando”, como ensina o Papa Francisco.
Que as nossas casas, as paróquias, os movimentos, os nossos locais de trabalho e lazer sejam lugares de proximidade sem fazer aceção de pessoas (nacionais ou migrantes; ricos ou pobres; sãos ou doentes), e que o toque das nossas mãos seja o de Jesus.
Será este o antídoto para vencermos as barreiras e o mal contagioso do individualismo.
Só chegaremos ao coração de Deus Amor, fazendo caminho juntos, através da proximidade, do serviço, do colocar a toalha à cinta e lavar os pés ao próximo, a começar pelos últimos. Mesmo que o caminho seja pedregoso, e por carreiros e becos pouco recomendáveis.
Esta deve ser “a Quaresma”, o tempo privilegiado para reavaliarmos a nossa vida à luz do Evangelho que requer também uma atitude de humildade e reconhecimento de nossas próprias fraquezas e pecados, sentindo – como disse recentemente o Papa Francisco a partir do hospital – «no coração a ‘bênção’ que se esconde na fragilidade».
Por isso é um tempo de conversão sincera, onde desabrocha a misericórdia, a esperança e o compromisso com os mais necessitados.
A Quaresma carrega consigo a esperança da Páscoa, a razão do nosso ser cristãos.
Apesar de um céu cinzento, podemos almejar um arco-íris de paz, de solidariedade e fraternidade. Arrisquemos a proximidade como caminho de esperança.
Nesta Quaresma, façamos do caminhar estímulo para ousarmos construir um mundo diferente;
Nesta Quaresma, façamos do caminhar juntos, como comunidade cristã e como comunidade humana, critério para aferir a nossa fidelidade ao projeto de Deus para a humanidade;
Nesta Quaresma, façamos do caminhar juntos na esperança testemunho do nosso compromisso com a promoção da justiça e da paz como impulso da novidade da ressurreição.

Lisboa, 6 de março de 2025

A Comissão Nacional Justiça e Paz

 

Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre a Mensagem para o 58.º Dia Mundial da Paz

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 Dia Mundial da Paz 2025

Sejamos anunciadores de uma Esperança audaz

Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre a Mensagem para o 58.º Dia Mundial da Paz

A Comissão Nacional Justiça e Paz propõe a todos uma leitura atenta da Mensagem que o Papa Francisco nos dirige por ocasião do Dia Mundial da Paz, no início deste Ano Jubilar (2025). 

As palavras que o Papa faz chegar a todos os homens e mulheres de boa vontade adquirem um sentido próprio em cada continente, região e país. Somos todos destinatários desta mensagem, no nosso agir concreto de cada dia, e não apenas os líderes das nações. Esta é, por isso, uma leitura que merece ser partilhada e objeto de reflexão conjunta nas nossas comunidades paroquiais, nos movimentos de que façamos parte, nas nossas famílias ou grupos de amigos.

«Ninguém vem a este mundo para ser oprimido», afirma o Papa Francisco, ao jeito de Jesus. Esta afirmação vigorosa precisa de ecoar na Europa e em Portugal, pois são palavras proféticas que não podem deixar-nos indiferentes.

Oprimido é aquele a quem tiraram toda a esperança. E, entre nós, há oprimidos sem visibilidade e cuja voz não se faz escutar. 

É oprimido o migrante que olhamos com desconfiança e receio, apesar de lhe devermos as tarefas mais árduas ou penosas e que passámos a desprezar. 

É oprimido o pobre a quem tantas vezes ignoramos as circunstâncias e os abismos em que se encontra de angústia e de falta de saúde mental. 

São oprimidas as comunidades do interior, as vilas e aldeias a quem os fogos do verão e do outono devoram a esperança. 

São oprimidas as famílias que vivem sob o jugo das dívidas que contraíram e das taxas de juro que agrilhoam a sua esperança num futuro melhor. 

São oprimidos os milhares de jovens à procura de casa por um preço compatível com os rendimentos do seu primeiro emprego. 

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Manifesto O DESAFIO DO TRABALHO DIGNO NUM MUNDO EM MUDANÇA

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Conferência 2024 Manifesto

O DESAFIO DO TRABALHO DIGNO NUM MUNDO EM MUDANÇA

Ao analisar a questão do desafio do trabalho digno num mundo em mudança, guiamo-nos por princípios que colhemos na doutrina social da Igreja e que aqui queremos realçar:

Uma dignidade infinita é inerente a cada pessoa humana, para além de toda a circunstância e em qualquer estado ou situação se encontre (Dignitas infinita n. 1).

Através do trabalho, a pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus, continua, desenvolve e completa a obra do Criador (Laborem exercens n. 25).

O facto de o ser humano ser criado à imagem de Deus e receber o mandato de dominar a terra não lhe confere um domínio absoluto sobre as outras criaturas. Os textos bíblicos convidam a «cultivar e guardar» o jardim do mundo (Génesis 2, 15). O ser humano pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras (Laudato sí n. 67 e n. 124).

Através do trabalho, o ser humano realiza-se nas suas múltiplas dimensões, tornando-se “mais pessoa” (Laborem exercens, n. 9). Existe também uma dimensão espiritual no trabalho que possibilita o amadurecimento e a santificação da pessoa (Laudato si’ n. 126).

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UM BEM PARA TODOS Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre migrações

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Migrantes site

UM BEM PARA TODOS

Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre migrações

 

Num tempo em que se vão ouvindo com cada vez mais força, em Portugal e noutros países, vozes hostis aos imigrantes, a Comissão Nacional Justiça e Paz quer sublinhar, na linha do que tem feito o Papa Francisco em consonância com o que fizeram os seus antecessores, o bem que migrações legais, ordenadas e seguras podem trazer às sociedade de origem e destino dos imigrantes.

Vai-se evidenciando cada vez mais a imprescindibilidade de trabalhadores imigrantes em vários setores da atividade económica em Portugal. Além do mais, a crise demográfica na Europa torna necessário o recurso a esses trabalhadores (sendo certo que esse recurso não é a única forma de enfrentar essa crise). Também é sabido que os contributos financeiros dos imigrantes para o Estado português são maiores do que as prestações de que beneficiam (apesar de eles conhecerem até maior risco de pobreza e privação material severa do que os nacionais).

Ao contrário do que muitas vezes se propala, o incremento da imigração que Portugal conheceu nos últimos anos não se traduziu num incremento da criminalidade. De um modo geral, o imigrante típico caracteriza-se por uma especial capacidade de trabalho, poupança e dedicação à família, o que contrasta em absoluto com uma maior tendência para a delinquência. Tal não invalida a importância de, como vem salientado o Papa, acolher, proteger, promover e integrar os imigrantes. Essas são também as formas mais eficazes de prevenir a criminalidade.

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A ERRADICAÇÃO DA POBREZA COMO DESÍGNIO NACIONAL Nota das Comissões Justiça e Paz

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cristo sem abrigo Fátima 50
                     ERRADICAÇÃO DA POBREZA COMO DESÍGNIO NACIONAL

Nota das Comissões Justiça e Paz

De acordo com o Relatório “Portugal, Balanço Social 2023”, publicado em maio pela Nova School of Business and Economics, a taxa de risco de pobreza era em 2023 de 17%. Isto significa que há cerca de 1,8 milhões de pessoas em risco de pobreza em Portugal. Mais de metade das famílias pobres tem rendimentos abaixo de 50% do rendimento mediano nacional.

É sabido que a erradicação da pobreza é uma tarefa complexa e que deve ser feita por meio da intervenção coordenada de várias frentes (educação, saúde, habitação, políticas de emprego, formação profissional e proteção social), de forma a promover um desenvolvimento humano integral. Ainda assim, os autores deste estudo chamam a atenção para que em 2022 seriam necessários tão-só três mil milhões de euros para, em Portugal, retirar de imediato todas as famílias da pobreza (1,5 % da despesa estimada no Orçamento do Estado para 2024, para um termo de comparação).

Mas a erradicação da pobreza não é apenas uma questão de dinheiro. Não se avançará no sentido de uma erradicação plena da pobreza sem a mobilização de todos, tendo em vista a construção de uma sociedade assente no respeito pelo outro, na entreajuda e na intransigência contra tudo aquilo que coloque qualquer pessoa em situação indigna de vida.

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